Segundo o Dr. Drauzio Varella em seu artigo “Médicos x Planos de Saúde”, no Brasil, “ médicos que vivem da clínica particular são aves raríssimas”. Mais de 97% prestam serviços aos planos de saúde e recebem de R$ 8 a R$ 32 por consulta.
Em nossa região, em média, as singulares da Unimed (maior operadora de saúde) pagam em torno de R$ 60 a 105,00 em valor bruto, o que, após descontados os impostos (somente de IR são descontados 27,5 % na fonte) esse valor cai para menos de R$ 50,00. Considerando-se os custos básicos de um consultório médico (secretárias, telefone, impressos, etc.) o resultado é que o médico recebe, na melhor das hipóteses, em torno de R$ 27,00 de valor líquido.
Ainda segundo o Dr. Drauzio, “os responsáveis pelos planos de saúde alegam que os avanços tecnológicos encarecem a assistência médica de tal forma que fica impossível aumentar a remuneração sem repassar os custos para os usuários já sobrecarregados. Os sindicatos e os conselhos de medicina desconfiam seriamente de tal justificativa, uma vez que as empresas não lhes permitem acesso às planilhas de custos”.
Voltemos às consultas, razão de existirem os consultórios médicos. Em princípio, cada consulta pode gerar de zero a um ou mais retornos para trazer os resultados dos exames pedidos. Os técnicos calculam que 50% a 60% das consultas médicas geram retornos pelos quais os convênios e planos de saúde não desembolsam um centavo sequer.
Façamos a conta: a R$ 27 em média por consulta, para gerar uma receita perto de R$ 5.000, é preciso atender 258 pessoas por mês. Como cerca de metade delas retorna com os resultados, serão necessários: 258 + 129 = 387 atendimentos mensais unicamente para cobrir as despesas obrigatórias. Como o número médio de dias úteis é de 21,5 por mês, entre consultas e retornos deverão ser atendidas 18 pessoas por dia!
O Dr. Drauzio então faz o seguinte questionamento: “É possível exercer a profissão com competência nessa velocidade? Com a experiência de quem atende doentes há quase 40 anos, posso garantir-lhes que não é. O bom exercício da medicina exige, além do exame físico cuidadoso, observação acurada, atenção à história da moléstia, à descrição dos sintomas, aos fatores de melhora e piora, uma análise, ainda que sumária, das condições de vida e da personalidade do paciente. Levando em conta, ainda, que os seres humanos costumam ser pouco objetivos ao relatar seus males, cabe ao profissional orientá-los a fazê-lo com mais precisão para não omitir detalhes fundamentais. A probabilidade de cometer erros graves aumenta perigosamente quando avaliamos quadros clínicos complexos entre dez e 15 minutos”.
Segundo ele, o que os empresários dos planos de saúde parecem não enxergar é que, embora consigam mão-de-obra barata – graças à proliferação de faculdades de medicina que privilegiou números em detrimento da qualidade -, acabam perdendo dinheiro ao pagar honorários tão insignificantes: médicos que não dispõem de tempo a “perder” com as queixas e o exame físico dos pacientes, pedem exames desnecessários.
Os médicos com maior qualificação e experiência são ainda mais afetados, pois os custos de uma formação de qualidade, atualização contínua e compra de equipamentos de última geração são elevadíssimos! Planos de saúde tem buscado compensar a perda desses profissionais substituindo-os por médicos recém formados, provenientes de escolas com cursos médicos de qualidade duvidosa, que por medo da concorrência aceitam trabalhar por valores mais baixos.
Isso tudo pode representar maiores riscos aos pacientes, como algumas companhias aéreas que, para reduzir custos, reduziram consideravelmente a quantidade de horas de voo de experiência necessárias à contratação de novos pilotos.
Conclui, então, o Dr. Drauzio: “o usuário, ao contratar um plano de saúde, deve sempre perguntar quanto receberão por consulta os profissionais cujos nomes constam da lista de conveniados. Longe de mim desmerecer qualquer tipo de trabalho, mas eu teria medo de ser atendido por um médico que vai receber bem menos do que um encanador cobra para desentupir o banheiro da minha casa. Sinceramente”.
Fonte: https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/medicos-versus-planos-de-saude-artigo/
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